sábado, 27 de fevereiro de 2010

ENTARDECER

O velho jeans
Percorre a trilha das folhas secas
Caídas daquelas mangueiras
Em direção ao Solar
Onde o músico toca Chopin
No piano secular.

O Solar que beira a baía
Onde todos os santos
Recolhem-se com o sol atrás da ilha
Deixando no céu esta estrela solitária
Que me pisca os olhos
E permanece distante.

Railton Santos

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

OLHOS PERDIDOS

São tantos olhos perdidos pela cidade,
corações solitários, que esqueceram de abrir os olhos
diante da realidade e
encarar a vida em qualquer lugar.
Pra que dizermos dos riscos que corremos pelas ruas por
não sermos ricos?
Pra que dizer sobre tudo que a televisão nos mostra pela
janela da porta pra fora,
se o político nos consome, se o nosso dinheiro some?
São tantos olhos perdidos pela cidade, tudo na cara
e tudo tão caro.
Mas o mundo segue assim, sem você e sem mim,
A vida se resolve, enquanto o tempo nos engole.
Nas canções se falam de meninos,
pelas esquinas proliferam como ninhadas,
são tantos olhos perdidos pela cidade pra nada.
Cúmplices e culpados lado a lado,
Lindos em seus ternos sóbrios quase sombrios,
famintos por aplauso.
Por acaso, louros nas cabeças onde mais mereciam
louros como piratas.
Ainda não estamos na pior, mas tudo pode ser bem
melhor;
Alerta camarada! Já estamos na estrada, fora da senzala.

Tony Oliveira

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

CARNAVAL MARGINAL

Pra desarticular o pensamento
entro na cabine telefônica
transformo-me em super-homem
e saio por aí
chutando lata
cabisbaixo.
Passista da escola “(Des) Unidos da Marginália”
passante dessas ruas iluminadas
vivo coreografar você
E você já nem se lembra
daquelas nossas danças mágicas.
Pára o som maestro!
Quero olhar-me no espelho.

Lula Miranda

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

RAILTON ENTREVISTA RICCO DUARTE


Na segunda metade do século passado (1977), quando lhe conheci, o Brasil estava sob o regime da Ditadura Militar e o Mundo dividido pelo Muro de Berlim. Estamos acabando a primeira década do Século XXI. O que mudou no Brasil e no Mundo?

R-Mudou muita coisa. O mundo ficou menor, a tecnologia derrubou fronteiras com o surgimento da internet por exemplo, caíram vários tabus, caíram inclusive o muro de Berlim e a ditadura militar no Brasil, mas o homem, apesar de tantas mudanças, basicamente continua o mesmo.


Quais foram suas leituras na infância e na adolescência?

R- Eu fui uma criança velha, daquelas que não jogava bola, nem de gude, preferia os livros e lia de tudo, desde as revistas semanais a enciclopédias. Meu pé de laranja Lima, do José Mauro de Vasconcelos, foi um livro que me marcou na infância, eu queria ser o Zezé. Depois caí matando quase tudo do Jorge Amado, Mar morto, Jubiabá, Gabriela etc. e como eu não tinha muitos amigos, li Cem anos de solidão do Gabriel Garcia Marques quando eu tinha treze anos, foi quando eu entendi a finitude de tudo, a existencia da morte como consequencia irreversivel da vida e tive a minha primeira crise existencial. O último tango em Paris do Robert Alley, também marcou minha adolescência.


Quando você descobriu seu talento para a Literatura?


R- O meu avô, que também era meu padrinho e a quem eu era muito ligado, dizia que eu ia ser um "homem de gabinete", pois eu só gostava de ler e escrever, ele pensava que eu seguiria a carreira diplomática, mas o meu talento natural é na verdade para a música, apesar de aos dez anos ter escrito meu primeiro poema, serenata, inspirado num poema do Drummond, eu gostava de ler Drummond aos dez anos de idade, meus irmãos achavam que eu era louco, mas louco é quem me diz...(rsrs). Então, respondendo a sua pergunta, vocação para a poesia desde sempre, na infância, a prosa surgiu em minha vida muito mais tarde, já maduro e só recentemente comecei a publicar no meu blog alguns contos e trechos dos dois romances que escrevi e que ainda não foram publicados.


Qualquer maneira de amor pode servir como fonte de inspiração?


R- Claro, inclusive o ódio, que é primo irmão do amor.


Quais são suas outras fontes de inspiração?


R- Eu sou um romântico inveterado. Mas gosto de brincar também com cenas banais do cotidiano, com o ridículo da vida.


Além da triste e alegre Bahia e da Cidade Maravilhosa, quais foram os lugares que mais lhe encantaram em suas viagens pelo mundo?


R-Muitos lugares me encantaram nas minhas andanças pelo mundo, Roma é a minha cidade favorita, Santorini na Grécia é a mais exótica, Lisboa, a mais aconchegante e Paris a mais bonita, depois do Rio, é claro.


Você vai votar em Marina, Serra ou Dilma? Por que?


R- Na Marina Silva. Por que sou ecologista e acho que ela representa a cara do Brasil, sem o ranço político que os outros dois tem.
O fato dela ter sido Ministra do meio ambiente e durante a sua gestão ter reduzido drasticamente as queimadas e desmatamentos na Amazônia, quando áreas enormes foram conservadas, mais de 700 pessoas foram presas por atividades ilegais na floresta, mais de 1.500 empresas foram fechadas, e equipamentos, propriedades e madeira ilegal foram apreendidos, é um fator importantíssimo, assim como a sua saída elegante do governo para não ser obrigada a ceder a pressões, prova que ela é acima de tudo, um ser humano digno e confiável. Ela coloca as suas idéias de maneira clara e simples, sem usar os artificios dos discursos politicos enjoados que vemos por aí. Ela tem o apoio incondicional de toda a classe artística e da intelectualidade brasileira, formadora de opinião e que também apoiou e ajudou a eleger o atual presidente, em 2002. Ela tem a cara do nosso povo e tenho certeza de que o povo brasileiro irá entendê-la rapidamente e elegê-la presidenta do Brasil.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

É FOGO

Nuvens em fuga
Fumaça no céu, onde
O Sol
Avermelha-se
Corando a face
Com a devastação da floresta
É tempo de seca
E de espera
Pelo que inda resta
O sofrimento do homem
Atesta-o
A testa brilha
O suor
E o cantar dos pardais
É rouco
Como rouca é
A voz
Que protesta:
- É fogo!

Rosalvo Júnior