sábado, 31 de outubro de 2009

DÉJÀ VU

NA PRIMEIRA VEZ QUE EU TE VI

ERA MEIA LUZ

E O TEU ROSTO ESTAVA NA SOMBRA

ENTÃO PEGUEI A METADE ILUMINADA

E CORRI COM ELA PELA ESTRADA

PENSANDO TER PEGO

O RUMO CERTO.

PASSADO UM TEMPO

COM AS LUZES DA CASA ACÊSAS

TENDO A OUTRA METADE ÀS CLARAS

SENTÍ NO MEU CORAÇÃO UM APÊRTO

ERA EU DE NOVO

QUE TINHA ABERTO AS PORTAS DA MINHA ALMA

E COLOCADO O LIXO PARA DENTRO.

Ricco Duarte

O CAVALO DE DRUMMOND

Homenageando o grande Carlos Drummond de Andrade, pela passagem do seu centésimo-oitavo aniversário de nascimento, resolvemos postar um dos seus poemas em que aparece a imagem de um cavalo como símbolo do instinto sexual.

Quarto em Desordem

Na curva perigosa dos cinquenta
derrapei neste amor. Que dor! que pétala
sensível e secreta me atormenta
e me provoca à síntese da flor

que não sabe como é feita: amor
na quinta-essência da palavra, e mudo
de natural silêncio já não cabe
em tanto gesto de colher e amar

a nuvem que de ambígua se dilui
nesse objeto mais vago do que nuvem
e mais indefeso, corpo! Corpo, corpo, corpo

verdade tão final, sede tão vária
a esse cavalo solto pela cama
a passear o peito de quem ama.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

TRIBUTO A RENATO RUSSO

TRIBUTO A RENATO RUSSO


Marina cantou “Ainda é cedo”
E alguma coisa aconteceu

Ficaram os meninos e meninas
No show de Cássia

Os encontros fortuitos
Nos banheiros do shopping

A ferida exposta na cabeça
Do mendigo da estação

O engarrafamento no trânsito
Da estrada da Liberdade

Nada de ti ficou no mundo
Ficou no mundo

Nem filho de filho de verdade
Nem cinza sobre flores

Só música urbana.


Railton Santos
MULTIFLORES


Multicores
As flores
São amores
E como vivem Em desvario
Rodopiam em valsas
Se eternizam
Infinitamente
Em valsas rodopiam
As flores
Multiflores
Em jardins
Matizes aos olhos
Perfume de brisa fria
E o sonho despeja
Sobre mim
Toda alegria


Rosalvo Junior

NOTURNAS HORAS

NOTURNAS HORAS
Na hora de sempre a noite se estende
sobre as intimidades, obsessivamente
Se interpõe entre os amantes
e as tempestades num brevíssimo repente
Pequenas e triviais desgraças
nesta hora calada na noite loquaz,
sob um céu estrelado nas praças
desespero uma cilada- o prazer fugaz,
A angústia campeia silenciosamente
há noites nos bares, nos quartos, nas ruas.
Os apelos inaudíveis proferidos inutilmente,
há noites entre nós na cama, nuas.
Irrompem tiranas em meio à nossa
desordem amorosa,
estremecem a alma e atiçam a carne,
os ódios guardados inflamam- uma dor
espantosa
abafo seu grito com um beijo covarde.
Gestos infindos perdem-se numa trama.
A noite estanca a sua hora!
Nossos corpos ardem em volátil chama,
ante o surgir de uma inexorável aurora.

Nilza Nancy

domingo, 18 de outubro de 2009

PAIXÃO

Leve como talco
No corpo mulato
Fazendo carinho
Manso como brisa
Na noite, o sereno
No corpo moreno
Um afago qualquer
Livre como pensamento
Sem cessar um momento
De pensar em você
Livre como beijo
Que vem dos seus lábios
Eu me entrego, semente
E esqueço
De tudo no mundo
E pertenço para sempre

Rosalvo Júnior

BANHO

Invejo a água que percorre
seu corpo,
deixando brilhantes gotículas,
testemunhas inocentes
de uma cena voyerística,
estremecem sinuosas sobre
uma fria e perfumosa pele,
desmancham despudoradamente
os claros cachos que perpassam
entre os pelos e escorrem
num redemoinho,
diluindo meu amor,
numa alquimia frenética

Nilza Nanci

RASGÃO

RASGÃO
No tempo dos generais
Ainda não navegávamos na Internet
E o Largo Dois de Julho já era
Este antro de devassos

Com terno, gravata, mulher,
Filhos e contas a pagar
Montamos seu álbum de família

E assim como Rimbaud
(Aquele destruidor de lares)
Com a minha espada de herói
E teu urro de fera

Rasgamos a página deste mesmo álbum

Railton Santos

APRESENTAÇÃO

Seja bem-vindo ao Corcel Poético!

Este é um espaço para mostra, dicussão e opinião sobre poesia.

Um abraço